Números da pecuária brasileira colocam empresas nacionais como protagonistas no mercado internacional

2 de maio de 2022 | Inteligência de Mercado

Com uma participação superior a 27% do PIB nacional em 2021, o agronegócio brasileiro se mantém como um dos carros-chefes da economia. Seu crescimento é baseado no aumento da produtividade advinda de novas tecnologias e melhor uso dos recursos financeiros disponíveis por meio das empresas que compõem esta fatia da economia no mercado de capitais.

O mercado de produção de alimentos do país pode ser dividido em dois grandes setores: o de grãos e o de carnes. Este último é um interessante objeto de análise pela composição e características das empresas que o compõem e sua adaptação a diferentes contextos nos últimos anos.

Direto ao assunto:

  1. Subsetor: Frigoríficos prioritariamente bovinos
  2. Subsetor: Frigoríficos prioritariamente suínos
  3. Subsetor: Frigoríficos prioritariamente de aves
  4. Considerações finais

Pecuária: setor de produção de carnes

A indústria brasileira de carnes contém grande peso na cadeia produtiva do agronegócio no país. Ela é composta principalmente por empresas do setor frigorífico, trabalhando com o abate de animais, onde se destacam os bovinos, suínos e aves: cerca de 32% do PIB do “agro”.

Destaque na balança comercial brasileira

Quando se fala na pecuária brasileira, a primeira palavra top of mind para o investidor é “exportação”. O setor é protagonista no comércio internacional – o que caracteriza o mercado brasileiro -, configurando-se como maior exportador de carne bovina e suína do mundo e terceiro em aves.

A abertura comercial na década de 90 – que facilitou a participação do Brasil em acordos comerciais somados à depreciação do Real frente a outras moedas como Dólar e Euro – e as condições geográficas e climáticas oferecidas pelo território nacional, fazem parte das externalidades que propiciaram a prosperidade observada.

Subsetor: Frigoríficos prioritariamente bovinos

A produção de carne bovina no Brasil ainda é o principal produto da indústria, apesar da recente perda proporcional na participação deste mercado. É válido destacar que o país possui o maior rebanho de gado do mundo, segundo dados de 2020 são mais de 217 milhões de cabeças (animais), representando 14,3% do rebanho mundial.

Apesar de ter uma distância confortável para a Índia (2º maior rebanho), há muito espaço para o crescimento na produtividade pecuária, já que a taxa de ocupação é de apenas 1,5 cabeça/hectare, seguida de uma produtividade média de menos de dez arrobas por hectare/ano. Uma taxa relativamente baixa e que remete a uma cultura expansiva. A movimentação para uma pecuária intensiva, com a maior aplicação de tecnologia, é uma tendência que vem crescendo no país, trazendo um potencial de crescimento nessa produtividade de até 3x mais sem a necessidade da abertura de novos ”espaços”.

Outro importante destaque do setor é o contínuo crescimento das exportações brasileiras nas últimas décadas, mostrando que a maior produtividade é acompanhada de expansão comercial. Isso reflete nas altas receitas que as empresas deste mercado geram.

Dados: http://comexstat.mdic.gov.br/pt/home  Gráfico: Autoral

Apesar do sucesso da exportação da carne bovina, o Brasil ainda sofre sérias restrições comerciais, principalmente do mercado europeu e parte da Ásia (exceção à China, o maior comprador). Em contraponto a esse fato, o subsetor encontra menos tarifas para exportar para América do Sul e EUA.

Barreiras tarifárias impostas a carne bovina brasileira; Mapa: http://www.intracen.org/

Em 2021, o mundo produziu mais de 60 milhões de toneladas de carne bovina, seguindo uma tendência de crescimento observada nos últimos anos, o Brasil se configura como o segundo maior produtor, representando 16,8% da produção mundial, com cerca de 10,32 milhões de toneladas.

Gráfico: agrosaber

Apesar do sucesso no mercado internacional, no consumo interno o subsetor enfrenta alguns problemas. Devido a queda na demanda por este tipo de carne, o Brasil não atinge seu pico de abates bovinos desde 2013. Por ser a mais cara dentre as 3 proteínas mais consumidas, a carne bovina tem uma demanda altamente elástica e seus produtos substitutos são significativamente mais baratos, como a carne de frango. A crise econômica e os efeitos da inflação levaram muitos consumidores a trocar parte do seus hábitos de consumo.

Dentre as principais empresas que compõem este subsetor, destacam-se: JBS, Marfrig, Frigotil e Prima Foods. As duas primeiras recorrentemente figuram entre as maiores empresas do país, tanto em capital social quanto em lucro líquido anual.

Principais Indicadores do subsetor

Comparação de Indicadores – Principais Companhias x Mercado – 2020

Subsetor: Frigoríficos prioritariamente suínos

A carne mais consumida no mundo também é um dos principais produtos da economia brasileira: cerca de 23% de toda a produção nacional deste subsetor é voltada ao mercado internacional. Entre janeiro e novembro de 2021, os embarques da suinocultura para o exterior totalizaram 1,047 milhão de toneladas, gerando uma receita de US $2,449 bilhões, superando anos anteriores e evidenciando o sucesso comercial brasileiro nesse segmento.

O rebanho suíno brasileiro é o terceiro maior do mundo, com 41 milhões de cabeças, que representam 4,4% do rebanho mundial. Nesse ranking é impossível bater a primeira colocada e maior consumidora da carne no mundo: a China, com mais de 41% do total de cabeças suínas do planeta.

Apesar das oscilações de desempenho no início da década passada, as exportações brasileiras vêm em forte crescimento, principalmente pelo crescimento de 40% das exportações com destino a China, principal parceiro comercial do Brasil no segmento. Junto a esse bônus, cria-se uma fragilidade, a alta dependência de um comprador, fazendo com que qualquer instabilidade política, diplomática ou crise econômica no gigante asiático tenha fortes impactos nas empresas daqui, como observado em 2018.

Dados: http://comexstat.mdic.gov.br/pt/home  Gráfico: Autoral

Dentre os 3 principais subsetores analisados, o mercado de abate de suínos é o que enfrenta as menores barreiras tarifárias, principalmente em comparação ao mercado asiático (responsável por 79% das exportações).

Barreiras tarifárias impostas a carne suína brasileira; Mapa: http://www.intracen.org/

No que diz respeito ao mercado interno, existe uma certa fragilidade relacionada à sensibilidade do setor ao crescimento dos preços dos insumos, como o milho. Isso se deve ao fato de que parte significativa do consumo interno é atendido por pequenas empresas ou produtores independentes. Estes últimos estão enfrentando uma forte crise, criando uma tendência cada vez maior da integração deste tipo de produtor em cadeias maiores de produção, como cooperativas ou grandes frigoríficos.

Dentre as principais empresas que compõem esse subsetor, destacam-se: Alibem Alimentos, Pamplona Alimentos, Dom Porquito Agroindustrial e Natural Pork Alimentos.

Principais Indicadores

Comparação de Indicadores – Principais Companhias x Mercado – 2020

Subsetor: Frigoríficos prioritariamente de aves

Em comparação aos outros subsetores, a carne de frango é a mais voltada ao mercado externo, com cerca de 32% da sua produção sendo destinada à exportação, segundo dados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), de 2019. Com mais de 4,6 milhões de toneladas exportadas em 2012, o Brasil, maior exportador deste tipo de carne no mundo, quebrou seu próprio recorde de volume.

Dados: http://comexstat.mdic.gov.br/pt/home  Gráfico: Autoral

Uma característica que diferencia este subsetor dos outros é a diversificação dos parceiros comerciais, não sendo tão dependente de apenas um mercado para exportação. Mesmo com o recuo da China como compradora, nos anos de 2020 e 2021, a exportação apresentou ótimos números, como pode-se observar.


Apesar das fortes restrições tarifárias impostas por alguns países, a exportação de frango penetra diversos mercados. Segundo dados da ABPA, de 2021: A Ásia, continua como a maior importadora, com 1,64 milhão de toneladas, outros destaques são a África com 662,3 mil toneladas importadas e a América, a qual importou 75% a mais que o ano inteiro chegando a 394,4 mil toneladas.

Barreiras tarifárias impostas a carne de aves brasileiras; Mapa: http://www.intracen.org/

No mercado interno – para onde é destinada 68% da produção nacional – a carne de aves é a que menos sofre oscilações, tendo menores quedas no nível de consumo em comparação aos demais. Isso se deve pela menor elasticidade na sua demanda e preço menor ao consumidor final. Além disso, a alta tecnologia aplicada e ciclo menor entre criação, abate e chegada ao consumidor, é um mercado com menores riscos e menores crises.

Dentre as principais empresas do Setor, destacam-se: JBS Aves, Agrícola Jandelle, São Salvador Alimentos e Rio Branco Alimentos.

Principais Indicadores

Comparação de Indicadores – Principais Companhias x Mercado – 2020

 Considerações finais

Sem dúvida, estes 3 segmentos fazem do Brasil um protagonista no mercado internacional. E com a união entre a vantagem comparativa e tecnologia aplicada, resultam em sucesso no mercado.
Entre as características que os diferenciam, vale destacar:

Bovino

  • O subsetor prioritariamente bovino, tem as maiores e mais conhecidas empresas e também é o mais representativo na balança comercial, gerando maior receita, porém o setor enfrenta uma maior dificuldade no mercado interno, tendo uma elasticidade maior de sua demanda em comparação aos demais. Além disso, é o mais sensível a crises e oscilações de mercado. Prova disso é o fato de o subsetor não ter retomado o nível atingido em 2013 no mercado interno, após a operação Carne Fraca e a constante crise econômica que o país enfrenta.

    Olhando para os indicadores financeiros médios do mercado, vale observar que apesar da alta receita, os níveis de endividamento também são maiores que os demais setores. Os indicadores de Retorno do Capital Próprio e de Retorno de Ativos, que indicam a eficiência financeira das empresas, bem como as margens de lucro, vem se apresentando abaixo da média.

Suíno

  • Já o subsetor suíno, apesar de ser o menos representativo e gerar as menores receitas, apresenta os melhores resultados de eficiência financeira e operacional, com melhores margens de lucro e retorno sobre ativos e capital próprio. Entretanto, os níveis de endividamento podem ser um fator de preocupação dado o perfil das empresas que compõem o mercado. Outro fato a se observar é a alta dependência da China como parceiro comercial, uma redução no consumo deste mercado trás consequência econômica sérias, e isto, aliado a sensibilidade ao preço dos insumos, tornam este subsetor o de maior risco, apesar das melhores oportunidades de lucro. Seguindo uma das principais leis do mercado, “quanto maior o lucro, maior o risco”. 
  • Em comparação aos subsetores anteriores, consideramos o de aves seja o mais “mediano”, no sentido em que não apresenta as melhores margens de lucro ou de eficiência, mas também não é o de maior risco. Com níveis aceitáveis de alavancagem e endividamento, proporcionalmente aceitáveis dado o perfil das empresas, e menores oscilações na sua demanda, dada a menor elasticidade e preço final ao consumidor, o subsetor apresenta uma maior estabilidade. Outro fato importante a se atentar é a maior dependência do mercado externo, pois dos 3 subsetores é o que as exportações possuem maior participação na receita gerada.
  • Compartilhar no Facebook
  • Compartilhar no Twitter
  • Compartilhar por E-mail
  • Compartilhar no LinkedIn
  • Compartilhar no WhatsApp
  • Compartilhar no Pinterest