O universo de mobilidade está consolidado? Temos alguma revolução à vista?
A nossa resposta é que sim, parece que temos algumas revoluções à vista e a que parece mais próxima é a do “car sharing”, que já vem sendo adotado comercialmente no Brasil.
O grande diferencial da modalidade está na facilidade, pois todo aluguel é feito digitalmente, a burocracia é menor e as assinaturas possuem maior flexibilidade em relação ao aluguel de carro comum. Essas mudanças não são pequenas e podem chacoalhar o setor (não faz muito tempo um movimento semelhante aconteceu com o Quinto Andar no mercado imobiliário). Portanto, empresas como Localiza&Co e Movida Aluguel de Carros e até mesmo a Uber devem ficar de olhos abertos.
Para entender um pouco melhor os meandros do setor, pesquisamos por empresas do segmento na Klooks, maior fonte de inteligência de empresas de capital fechado do Brasil. Nos chamou a atenção a Turbi, um dos principais players do país. Ela saiu de 19 milhões de receita líquida em 2020 e atingiu 110 milhões em 2023 (CAGR de ~80%).
Good news is: a empresa vem apresentando EBITDA robusto ano após ano e em 2023 bateu 40m (~37%).
Bad news is: negócios com alto grau de imobilização precisam de dinheiro e dinheiro no Brasil é caro pra chuchu.
Olhando na Klooks da para ver que a dívida chegou a bater 284m (99% debêntures) com despesas financeiras de 52m em 2023 (~19% a.a.). O resultado líquido foi de 60m de prejuízo (depreciação de 40m embutida) e PL fechou o ano em -79m principalmente por conta do prejuízo acumulado.
Para resolver essa situação no início de 2024 a empresa converteu 45m de dívida em equity e captou 195m de investidores, liderados pela ARC Investimentos. Com isso, a Turbi promete aumentar ainda mais sua frota (com veículos melhores), entrar no mercado de venda de seminovos (nova vertical de receita), pagar dívidas caras e deixar o PL positivo.
🚗📊🔍Balanço completo da empresa aqui: https://www2.klooks.com.br/artigo-turbi
Ainda assim, a empresa vai ficar com quase 90m em dívida, me parece ter uma oportunidade interessante para consultorias financeiras, seja para melhorar o perfil da dívida ou para ajudar a transformar ainda mais essa dívida em equity.
Também entendo ter oportunidade para consultorias estratégicas ajudarem a pensar o modelo de negócios. O modelo atual envolve a compra ou aluguel de carros para serem posteriormente compartilhados usando o app da Turbi e a sua tecnologia de car sharing. No último ano compraram 835 veículos e em 2024 o plano no início do ano era comprar mais 1625 veículos da Hyundai Motor Brasil e Volkswagen do Brasil, esse é um modelo naturalmente de capital intensivo pois é necessário comprar a frota inteira e/ou pagar pela ociosidade. Hoje a ociosidade é na casa dos 30% (um pouco alta se comparada com a Localiza que, de acordo com o relatório disponível na Klooks, fica na casa de 20% para aluguel de carros e 5% para frotas).
O modelo de negócio até comporta essa taxa mas é um risco adicional (por sinal, será que não é oportunidade para uma nova apólice de seguro? mais infos sobre essa divagação abaixo*).
Fica a dúvida se um modelo asset light “tipo Uber”, utilizando carros ociosos de pessoas físicas não permitiria um crescimento mais sustentável. Claro que falar é fácil, mas tem um milhão de desafios aí, desde arredondar a ponta de seguros, validar a qualidade dos carros e até organizar a logística. Me parece ser um modelo bem mais complexo, no entanto algumas empresas gringas como a Turo já trabalham nessa linha de marketplace peer-to-peer de car sharing.
De qualquer maneira, no modelo de negócios atual vejo uma oportunidade muito interessante para seguro de frota veicular, afinal hoje a empresa tem 192 milhões em veículos e inclusive pode ser uma oportunidade de pavimentar a construção de uma apólice focada em car sharing.
Além disso, o financiamento de novos automóveis parece ser um filão para os bancos de montadoras e/ou bancos que financiem CAPEX, especialmente com a redução recente da dívida.
Apesar do crescimento e melhora do perfil da dívida, a diferença financeira entre as maiores empresas do mercado em relação a Turbi ainda é grande. Em 2023 a Localiza registrou receita líquida de 28.9 bi, EBITDA de 10.6 bi e lucro líquido de 1.8 bi. No mesmo período, a Movida registrou receita líquida de 10.3 bi, EBITDA de 3.5 bi e prejuízo líquido de 650m . Entretanto, o crescimento de 70% na receita da Turbi é maior do que os registrados por Localiza (34%) e Movida (11%). Ponto para o car sharing.
Em outros países a revolução do car sharing já está mais avançada e inclusive vemos outras revoluções em curso. Na China o car sharing já é amplamente adotado e inclusive em certas regiões já estão em circulação os “robô-táxis”, que são carros autônomos elétricos que funcionam como táxis (eu entendo como uma evolução do car sharing) e vieram para substituir a Uber (pelo menos em seu modelo tradicional).
Especificamente nas regiões de Guangzhou e Hefei foram ainda mais longe, o “carro voador dos Jetsons” já está funcionando de forma experimental como táxi. Esses veículos são mais conhecidos como eVTOLs (“electric vertical take off and landing”): drones que conseguem carregar passageiros e podem ser autônomos. A Embraer está forte nessa corrida através da Eve Air Mobility, subsidiária fabricante de drones para mobilidade urbana e concorrente de empresas gringas como Volocopter, Archer e EHang (NASDAQ: EH). Além dos desafios tecnológicos óbvios tem um desafio de regulação aeronáutica e controle de voo que é tão relevante quanto. As autoridades aeronáuticas chinesas se adiantaram e regularizaram um certificado de aeronavegabilidade que permite o tráfego aéreo destes equipamentos. EUA e Europa estão atrasados neste quesito.
Temos que correr, me parece que o futuro da mobilidade urbana está decolando e se as empresas tradicionais não acompanharem vão acabar estacionadas no passado.Acompanhe nossos conteúdos e veja como os dados da Klooks podem contribuir para o seu negócio 📲 https://lnkd.in/dH52_DAU